segunda-feira, 26 de maio de 2014

UM POUCO DE PE. FÁBIO DE MELLO

Eu não quero que você seja eu
Eu já tenho a mim
O que quero é que você chegue
Com seu poder de chegar
E de me devolver para mim.
Que você chegue com o seu dom
De também me fazer chegar
Perto de mim...
Pra me fazer ver o que sou e que só você viu.
Pra eu ser capaz de amar também
O que só você amou
Eu não quero que você seja igual a mim.
Eu já tenho a mim.
Não quero construir uma casa de espelhos
Que multiplique a minha imagem por todos os cantos.
Quero apenas que você me reflita
Melhor do que eu julgo ser.

PESSOAS (FERNANDA GAONA)


A vida é cheia de ciclos 
e ciclos repletos de pessoas. 
Algumas ficam, outras não. 
Outras vão, mas contrariando a lei da física, 
continuam. 
É um bocado de gente se esbarrando, 
tentando achar um lugar 
pra se acomodar dentro da nossa história.

Tem gente que passa e gente que ultrapassa. 
Que transpõe qualquer barreira, 
que encontra um meio de ficar. 
Gente que não pergunta se tem espaço, 
só se ajeita, dá um jeito de permanecer. 
E vira parte. 
E mesmo quando parte, vira todo. 
Porque ocupa tudo.
 Deixa um vazio cheio de presença.

ESCOLHAS (FERNANDA GAONA)


Em um infinito de possibilidades, eu escolho todas. 
Tenho uma sede que não cessa 
e uma dificuldade imensa em escolher apenas um destino. 
Tenho uma curiosidade que me deixa inquieta 
e uma vontade de percorrer todos os caminhos que não tem fim. 
Alimento a ideia fixa de desfrutar coisas 
que ainda nem sei 
e o sonho de habitar em lugares onde nunca estive. 
Tenho vontades para suprir 
e um monte de janelas para abrir. 
Sem saída, aceito minha condição restrita, 
mas faço ser intenso tudo que já conheci. 
Posso até ser limitada do lado de fora, 
mas as minhas recordações não me deixam mentir: 
aqui dentro o espaço é imenso.


TODOS OS SENTIDOS, SEM SENTIDO (FERNANDA GAONA)

Sorrir com os olhos, falar pelos cotovelos, 
meter os pés pelas mãos. 
Em mim, a anatomia não faz o menor sentido. 
Sou do tipo que lê um toque, 
que observa com o coração 
e caminha com os pés da imaginação. 
Multiplico meus cinco sentidos por milhares 
e me proponho a descobrir todos os dias 
novas formas de sentir. 
Quero o cheiro da felicidade, o gosto da saudade, 
o olhar do novo, a voz da razão 
e o toque da ternura. 
Luto contra o óbvio, porque sei que dentro de mim 
há um infinito de possibilidades e 
embora sentimentos ruins 
também transitem por aqui, 
sei que devo conduzi-los 
com a força do pensamento 
até a porta de saída. 
Decidi não delegar função
 para cada coisa que eu quero. 
Nem definir o lugar adequado 
para tudo de bom que eu sinto. 
Nossos sentimentos são seres vivos 
e decidem sem nos consultar. 
A prova de que na vida, 
rótulos são dispensáveis 
e sentimentos inclassificáveis.