A SAUDADE DE TI

O que fazer com a saudade de você que não me deixa te esquecer?

Pensei em fazer um poema, com as palavras doce-amargas que a caracterizam e dessa forma fazê-la tornar-se uma coisa física, concreta para então poder destruí-la... O poema não passou da primeira estrofe e as palavras fugiram da armadilha de papel que eu havia preparado para elas...

Pensei em escrever uma canção suave e melodiosa, que despertasse a dor e assim as lágrimas lavariam o sentimento, deixando-o incolor e indolor... A canção não passou da primeira nota musical, a dor despertou, mas as lágrimas não foram capazes de torná-la incolor ou indolor... Apenas a deixaram mais intensa.

Pensei então em pintar um quadro que exprimisse a falta que você me faz, porém a única coisa que consegui foi pintar teu rosto e teu sorriso, o que só fez a tua ausência doer ainda mais...
Pensei em dançar o fado mais triste que se tivesse notícia apenas para lembrar que o melhor é dançar a dois... 

Fico olhando o relógio, vendo as horas se arrastando no silêncio que você deixou... Volto aos lugares onde te encontrei e não te encontro. Dói saber que você não está, que você não vai voltar... Não agora... Não daqui a pouco...

O que fazer com o que ainda falta? 

O que fazer com o que não restou? 

Porque a saudade nada mais é a falta que o outro faz... O vazio que restou da tua não presença...

O que fazer com as discrepâncias? 

Tudo que restou de você é um vazio, um nada que preenche e ocupa cada espaço, me deixando sozinha, vazia e abandonada...

O que eu faço com a tua ausência?

(Lourdes Cano)